Tema da reportagem da Gazetado Oeste: Um músico e seus sonhos – Eliano Silva (O músico que se apresenta na praça é um jovem talento local e ainda não
teve, por parte da própria Secretaria de Cultura de sua cidade, o devido
reconhecimento).
Cabelos ao vento, andar um
pouco solitário, mas, na parada ali, logo numa praça, o sorriso do poeta e
músico abre os trabalhos de mais um encontro literário. É 14 de março, Dia
Nacional da Poesia, e Eliano Silva, ou apenas Eliano, como gosta de ser chamado
artisticamente, pega do microfone colocado em praça pública e recita um de seus
poemas, que farão parte de uma coletânea. Mas não para por aí. De violão ao
lado, suas composições ressoam pela praça. A noite da poesia na pacata Pau dos
Ferros, ganha um tom musical.
Estudantes, poetas e uma
representante do poder municipal local, especificamente da Secretaria de
Cultura do município, prestigiam o evento.
O músico que se apresenta na
praça é um jovem talento local e ainda não teve, por parte da própria
Secretaria de Cultura de sua cidade, o devido reconhecimento. Luta para lançar
seu primeiro CD, intitulado Ecdemomania, cuja canção “Tão devagar” (escute a
música aqui: https://soundcloud.com/elianooficial) já circula pela internet,
como forma de divulgação inicial. Tudo, segundo o músico, ainda está
“começando”. “Meu novo trabalho está em processo de gravação. Como sou novo no
cenário musical potiguar, de modo que esse será meu primeiro álbum, achei que
seria importante fazer uma divulgação prévia, chamando a atenção da galera,
lançando uma música alguns meses antes, que é o single “Tão devagar”. O disco
mesmo sairá em julho. Procurei me relacionar com jornalistas e blogueiros para
que pudessem me ajudar na divulgação do single. Então, alguns sites se
interessaram em me fazer de pauta nas suas matérias, mostrando ao público
potiguar a primeira faixa do meu disco. As redes sociais também são
fundamentais, não só para mim, mas para todos os artistas independentes que
visam divulgar seus trabalhos. E eu tenho usado bastante o Facebook, tanto para
postar sobre as novidades, quanto para me comunicar com as pessoas. Talvez seja
a minha maior vitrine, por alcançar um número de gente vasto e de todas as
partes do Brasil”, diz o músico.
Ele acredita que após o
lançamento do disco, a sua divulgação ganhe proporções maiores, porque não será
apenas um single, mas dez músicas disponibilizadas para donwload na internet e
também em versão física, que levará para os shows e os venderá. Muitos sites
sobre música demonstraram interesse em resenhar o disco, o que será importante.
Em 2014, Eliano gravou um EP
com quatro músicas autorais, que levou o nome de “Quiçá” e o lançou na
internet. “Deu muito certo, porque através dele muitas pessoas se tornaram
admiradoras do meu trabalho e desde então passaram a me apoiar com muito
carinho. Porém, recentemente deletei esse EP de todos os sites em que eu o
havia disponibilizado. Quem não o ouviu não ouvirá mais. O fato é que as
condições em que o “Quiçá” foi gravado não eram muito boas, eu o fiz praticamente
sem recursos, refletindo na sua qualidade de áudio, que deixou muito a desejar.
Este ano estou preparado para mostrar algo com muito mais qualidade, o melhor
que tenho a oferecer, e quero que ‘‘Ecdemomania” seja o meu trabalho de estreia
mesmo. Dizem que a primeira impressão é a que fica e eu quero ficar”, diz.
‘Artista é bicho teimoso’
Existe apoio em Pau dos
Ferros, em termos de município, para essas iniciativas? O músico sorri. “Pau
dos Ferros é uma cidade promissora e muito se falará dela no RN. Todos os dias
crescem em setores imobiliários, no comércio, em extensão, enfim… Vai caminhando
para o desenvolvimento, mas sua cultura, se é que já existiu, ficou esquecida
atrás do concreto dos prédios comerciais que se erguem por toda a cidade”,
destaca e complementa: “Posso citar usando os dedos apenas de uma mão as
intervenções culturais partidas do poder público de Pau dos Ferros: no mês de
junho há umas apresentações de quadrilhas juninas na praça de eventos e no mês
de setembro ocorre um evento que dizem ser uma feira sobre cultura e comércio,
que é a tradicional Finecap, em que ocorre vários shows de bandas de forró
moderno caríssimas – um cachê de uma Garota Safada, por exemplo, daria para
custear vários discos e livros de artistas pau-ferrenses – e exposições de
trabalhos em estandes, que até seria interessante se o preço do estande não
fosse tão alto, inacessível para os artesãos, artistas plásticos, atores,
músicos, poetas, etc. Pau dos Ferros tem uma secretaria de cultura, que na
véspera da Finecap convida as escolas com seus alunos para apresentarem algumas
coreografias na chamada “Vitrine Cultural”. E por aqui se encerram as
investidas em cultura por parte do poder público. Dizem que não tem fundos para
o incentivo à arte e cultura”, critica.
Porém, para ele, o artista
continua sendo aquele bicho teimoso. “Artista é bicho teimoso e tem que ser,
quanto maior a adversidade mais ele busca espaços, senão não sobrevive.
Sentindo essa pouca vitalidade cultural, fundamos no ano passado, eu e outros
poetas e músicos pau-ferrenses, o Coletivo Ribuliço, que consiste em organizar
intervenções artísticas nos espaços públicos da cidade. O último sarau que
organizamos foi em 14 de março, no aniversário de Castro Alves, dia nacional da
poesia, na praça da matriz, que antigamente era conhecida como a praça do
condor pelo fato de ter gravado numa parede “A praça é do povo como o céu é do
condor”, frase de Castro Alves. Infelizmente, reformaram a praça e tiraram a
poesia, ela não é mais lembrada como a praça do condor, a não ser pelos poetas.
Se quisermos publicar livros e gravar discos, tiramos do bolso”, aponta.
MOVIMENTO LITERÁRIO
“Sem movimento”, fala,
sorrindo… Existem muitos autores publicando livros, mas falta divulgação,
incentivo, público consumidor, reconhecimento pelo trabalho do artista. “Não há
na cidade uma biblioteca pública com vida ativa para sediar lançamentos de
livros. Feiras literárias são ótimas oportunidades de consagrar os autores da
terra, tendo em vista que ocorre uma atenção do público voltada para seus
livros, mas desde que eu me entendo como gente, nunca vi uma feira literária
realizada em Pau dos Ferros. Em cidades bem menores, como Água Nova, já
participei de feiras em que estiveram presentes escritores conhecidos
regionalmente e nacionalmente”, salienta.
Texto da paginar onlan da GAZETA DO OESTE.
http://gazetadooeste.com.br/um-poeta-no-oeste/